Manifesto Popular contra a violência do Estado e pelo Bem Viver


Diante do Genocídio histórico e estrutural do Povo Negro e Periférico em todo o Brasil, mas de forma específica em algumas localidades estratégicas para o poder público, o Fórum Popular de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro vem repudiar a atual política de segurança pública que, a partir do discurso da guerra às drogas, cotidianamente, produz mortes e violências nos territórios negros e favelados de todo o Estado. Esta política da morte não é um acidente ou um problema de gestão, mas resultado do racismo patriarcal cisheteronormativo.

No Estado capitalista racializado, onde o lucro é mais importante, e a vida – em especial a negra, vale pouco -, a produção de inimigos e guerras é parte da estratégia mais eficaz de acumulação do capital, logo, essa guerra é produzida pelo Estado. Destacamos também que a mídia hegemônica é parte dessa engrenagem de produção de morte, quando alimenta, infla e reproduz discursos racistas, lgbtfóbicos e classistas contra as populações que são alvos dessa violência.

Não podemos deixar de repudiar toda a forma histórica de atuação das polícias, das condições degradantes e situações de violação de direitos que pessoas encarceradas, seus familiares, visitantes e sobreviventes do cárcere sofrem cotidianamente no complexo industrial do sistema prisional.

Repudiamos a inoperância do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), que não exerce seu papel constitucional de controle externo das polícias.

Foto: Rogério S.

Também destacamos que parte da academia, na figura de membros brancos e da elite, tem sua parcela de responsabilidade no atual cenário, pois ao longo do tempo, consolidou a segurança pública como categoria e não como objeto de análises, reforçando assim uma ideia reducionista de que segurança pública é restrita à polícia e a necessidade ou falta dela, distanciando o debate da vida vivida e dos espaços populares de luta.

O Fórum quer virar essa página a partir do conhecimento dos territórios negros de favelas e periferias que vivenciam a violência estatal, operacionalizada a partir do braço armado das polícias.

Se faz necessário voltarmos a discutir o que é o Estado, pois isso permitirá ampliar a nossa perspectiva sobre segurança pública sobre bases populares. Hoje, ao falarmos de segurança pública, precisamos entender a relação das milícias e do varejo de drogas com o Estado e com grandes empresas, o papel do sistema de justiça e de seu direito burguês e suas institucionalidades, a militarização da vida e da política, a luta por terra e todo processo de especulação imobiliária. Além disso, precisamos falar sobre o papel das instituições religiosas ultraconservadoras na construção da lógica militarizada, proibicionista e de produção de morte e toda engrenagem do sistema prisional.

Portanto, precisamos entender que se trata de um sistema de segurança articulado para produção da morte e de encarceramento em massa, que tem historicamente como base de sua construção e justificativa de existência o controle, adoecimento e morte para população negra, pois assim minoram as possibilidades de rebeliões e movimentos insurgentes e reforçam a brancura e a riqueza como ideais de poder.

Não queremos mais enterrar os nossos todos os dias. Também não queremos apenas sobreviver às violências diárias do Estado. Queremos existências baseadas no Bem Viver.


Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s